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Viagens particulares em avião oficial deixam brasileiros indignados

Os presidentes do Congresso e do Senado, o governador do Rio e o ministro da Previdência Social usaram aviões oficiais para assistir a jogos e festas

Juan Arias
Protesta en Río de Janeiro el pasado 27 de junio.
Protesta en Río de Janeiro el pasado 27 de junio.SILVIA IZQUIERDO (AP)

Políticos em altos cargos foram surpreendidos com a mão na massa e provocaram a ira de manifestantes nas ruas de todo o Brasil. Enquanto as ruas e praças criticavam os gastos inúteis do governo, que fazem uma festa de corrupção política e cujo custo milionário é subtraído dos serviços públicos para os cidadãos, altos mandatários do Legislativo e do Executivo usam aviões do Exército ou helicópteros do governos em missões nada transcendentais.

O presidente do Congresso, Eduardo Alves, usou um avião das Forças Armadas para ir ao Maracanã com a namorada, parentes e amigos a uma partida da Copa das Confederações no Rio de Janeiro. O presidente do Senado, Renan Calheiros – processado pelo Supremo e cuja destituição foi pedida por mais de um milhão de assinaturas – viajou em outro avião militar para a aldeia turística de Trancoso, para assistir ao casamento da filha de um político amigo. O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, também usou um avião da FAB para assistir a outro jogo no Maracanã e o governador do estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral – cujo apartamento, no bairro nobre do Leblon, está há uma semana cercado por manifestantes, o que o impede de dormir lá – nos fins de semana vai à sua casa em Mangaratiba, a 80 quilômetros da capital carioca, em um dos helicópteros oficiais do governo, comprado por 8 milhões de dólares e batizado de helicóptero da alegria segundo a revista Veja. O helicóptero costuma fazer várias viagens de cada vez: primeiro leva as empregadas e o cachorro, depois a família. Às vezes, segundo a publicação, a esposa de Cabral esquece um vestido e o helicóptero volta ao Rio para buscá-lo, ou as empregadas voltam para fazer compras.

Inicialmente, os presidentes do Senado e do Congresso tentaram se justificar alegando terem direito a usar os aviões da FAB, pois, como líderes das câmaras, viajavam representando o Congresso. Por fim, pressionados pela opinião pública e os protestos nas ruas, os três se desculparam e começaram a devolver o dinheiro aos cofres públicos.

Cada voo nacional de um avião da FAB custa 70.00 reais (US$ 36.000). Eles devolveram a metade.

O governador Cabral ainda não informou o que pretende fazer nem justificou o uso do helicóptero oficial durante o seu descanso semanal.

Analistas apontam que, justamente quando os protestos contra a corrupção politica ardem nas ruas, o comportamento dos políticos supõe o desconhecimento da gravidade das manifestações ou uma verdadeira provocação, e não sabem qual destas posturas é mais preocupante.

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A opinião púbica não esquece que inclusive nas viagens oficiais os políticos não pagam para usar aviões comerciais e que o uso dos aviões da FAB limita-se a casos excepcionais. O que há de excepcional e urgente em ir com amigos assistir a uma partida de futebol ou comparecer ao casamento da filha de um amigo?

Curiosamente, o protesto brasileiro se centra cada dia mais num denominador comum: o divórcio entre as exigências da sociedade e o mundo em que vive a classe politica. “É como se ambos falassem línguas diferentes”, comentou um sociólogo.

Os manifestantes acreditam que a verdadeira reforma política que a presidente Dilma Rousseff quer fazer mediante um plebiscito popular – cada vez mais criticado pelos próprios partidos que apoiam o seu governo – deveria começar pela perda dos “escandalosos privilégios acumulados” pelos políticos ao longo dos anos. Como os salários, um dos mais altos do mundo. Isto teria uma forte repercussão, afirmam os marqueteiros dos políticos, quando mais de 80 milhões de eleitores forem às urnas no ano que vem para eleger presidente da República, deputados, senadores e governadores.

O clima nas ruas continua tenso. Já não é só a classe média que protesta. Também os caminhoneiros e outros trabalhadores se levantam. Neste domingo, a famosa favela Dona Marta, no bairro de classe média de Botafogo (Rio de janeiro) desceu o morro para pedir melhorias nos precários serviços públicos das comunidades marginais.

Tradução: Cristina Cavalcanti

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