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Brasil também está na mira da espionagem vazada por Snowden

Jornais revelam que os EUA interceptaram milhares de telefonemas, mails e dados de empresas

María Martín
Un manifestante pro-Snowden, en Berlín.
Un manifestante pro-Snowden, en Berlín.Ole Spata (AFP)

O Brasil, que possui extensas redes digitais públicas e privadas, há anos é um objetivo prioritário da espionagem estadunidense. Segundo matéria publicada no jornal brasileiro O Globo em colaboração com o britânico The Guardian, o governo de Barack Obama interceptou indiscriminadamente milhares de telefonemas, correios eletrônicos e dados de empresas, instituições e cidadãos brasileiros. Os jornais explicam que para facilitar o alcance da rede de espionagem, a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) mantém acordos estratégicos com mais de 80 “principais corporações globais” dos setores de comunicações, provedores de Internet e infraestrutura de rede para “apoiar as missões”.

Como estas alianças não garantem à NSA acesso a todos os aparelhos do planeta, diz O Globo que a agência criou um programa chamado Fairview para, com o apoio de uma grande empresa de telefonia americana, captar dados em redes do mundo todo.

Mediante alianças corporativas, a NSA acaba tendo acesso a sistemas de comunicação fora das fronteiras estadunidenses. “Como resultado das relações com empresas não americanas, essa operadora tem acesso às redes de comunicação locais, inclusive brasileiras”, afirma O Globo. A informação, baseada em documentos revelados pelo ex-técnico da NSA Edward Snowden – que espera asilo político em Moscou – assegura que o país latino-americano teria tanto interesse para os estadunidenses quando a China a Rússia o Irã ou o Paquistão.

“Não se sabe o número de pessoas e empresas espionadas no Brasil, mas há evidências de que o volume de dados interceptados pelo sistema é constante e de grande escala”, afirma o jornal do Rio de Janeiro. A presidente Dilma Rousseff recebeu a notícia com preocupação. O ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, por meio do embaixador em Washington e do representante dos EUA em Brasília pediu ao governo de Obama que esclareça o episódio das interceptações, como ele informou pessoalmente à imprensa hoje pela manhã.

Se for comprovada, a espionagem “seria algo sumamente grave” e o governo brasileiro “responderia à altura da gravidade”, disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores a O Globo. O governo brasileiro também pretende lançar uma iniciativa na ONU para “proibir abusos e impedir a invasão de privacidade” dos usuários da Internet, e “estabelecer normas claras de comportamento por parte dos Estados” no setor das telecomunicações.

O Brasil, um dos 21 países ao qual Snowden pediu asilo para se proteger da extradição após revelar uma rede mundial de espionagem montada pelos EUA, não respondeu à petição do delator. Segundo O Globo, as informações dos documentos de Snowden confirmam suspeitas de vigilância estadunidense no país.

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O próprio ministro de Defesa brasileiro, Celso Amorim, disse na semana passada em entrevista ao jornal Folha de São Paulo que por duas vezes pensou que o seu telefone estava grampeado. “Uma foi quando eu vivia nos EUA, era embaixador na ONU e estava encarregado de três comissões sobre o Iraque. O meu telefone começou a fazer um ruído estranho que só parou quando acabou a comissão. Havia um objetivo óbvio ali”. Na entrevista, o ministro afirmou que a questão da espionagem era um assunto que preocupava a defesa do país.

Tradução: Cristina Cavalcanti

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Sobre la firma

María Martín
Periodista especializada en la cobertura del fenómeno migratorio en España. Empezó su carrera en EL PAÍS como reportera de información local, pasó por El Mundo y se marchó a Brasil. Allí trabajó en la Folha de S. Paulo, fue parte del equipo fundador de la edición en portugués de EL PAÍS y fue corresponsal desde Río de Janeiro.
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