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O leilão da Petrobras, decisivo para mudar o mapa geopolítico do Brasil

A importância do evento explica a greve geral dos trabalhadores da empresa, com 90% de adesão

Juan Arias
A paralisação da Petrobras, iniciada em 17 de outubro passado, tem uma adesão de 90% dos trabalhadores.
A paralisação da Petrobras, iniciada em 17 de outubro passado, tem uma adesão de 90% dos trabalhadores.ARQUIVO (EFE)

Nesta segunda-feira, o Brasil pode mudar depois do resultado do leilão do campo de petróleo Libra, da Petrobras, considerado um dos maiores do mundo, com reservas estimadas em 12 bilhões de barris.

O leilão, que pela primeira vez é feito de acordo com as novas regras de participação de empresas estrangeiras na exploração do pré-sal no litoral de Santos, é considerado tão importante pelo governo da presidente Dilma Rousseff que já se diz que o seu resultado poderia mudar o “mapa geopolítico” do Brasil.

Segundo os especialistas, o país, ou países, cujas empresas, estatais ou privadas, passarem a explorar o petróleo brasileiro junto com a Petrobras fará uma espécie de “casamento” com o Brasil, parecido com o que um dia os Estados Unidos fizeram com o Oriente Médio e os países do leste europeu com a Rússia. Esta geopolítica do petróleo costuma levar à criação de laços internacionais muito fortes, que não se limitam aos negócios dos combustíveis.

O resultado do leilão, que será anunciado nesta segunda-feira pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), implica o começo de uma “grande amizade” em termos econômicos com o vencedor, que não se limitará ao volume de investimentos estrangeiros, pois incluirá uma grande quantidade de compras do país por estes sócios internacionais, principalmente no caso das estatais, como parece ser o caso, se for verdade que as vencedoras serão duas empresas públicas da República Popular da China.

Talvez a importância e o peso do que o leilão pode supor para o Brasil tenham criado um clima quase de “guerra”, promovido pelos que gostariam que a exploração do pré-sal continuasse nas mãos do Brasil, sem que empresas estrangeiras se sentassem à mesa do festim. Isso explica que nas últimas 48 horas os tribunais tenham recebido 23 ações para tentar anular a licitação. Até o domingo, 14 tinham sido rejeitadas pelos tribunais de justiça, que consideraram que eram movidas por motivos mais “ideológicos do que técnicos”. As outras nove ações serão julgadas nesta segunda-feira.

A importância do leilão explica também a greve geral dos trabalhadores da Petrobras, à qual 90% da empresa aderiu. Na segunda-feira eles farão um protesto diante do local onde ocorrerá o leilão, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para tentar impedi-lo.

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Os ânimos estão tão exaltados e a preocupação do governo de Rousseff é tão grande com a possibilidade de protestos, inclusive violentos, que poderiam se desatar por grupos como os Black Blocs, por exemplo, que desde junho passado se infiltram nas manifestações com suas ações de vandalismo, que, para proteger o hotel onde vai ocorrer o leilão foram convocados o Exército, a Guarda Municipal e as polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro, além da Força de Segurança Nacional.

Desde a meia-noite de domingo, o trânsito foi interrompido em vários pontos em toda a região da Barra, e até a praia diante do hotel é vigiada pelas forças da ordem, que só permitem a passagem dos habitantes locais. A participação do exército foi necessária porque as autoridades do Rio alertaram que não se sentiam em condições de garantir a segurança do leilão devido ao clima de tensão criado em torno dele.

A Marinha atuará ao lado do Exército cuidando da defesa do litoral da zona e foi solicitado aos cidadãos motorizados que evitem transitar pela região durante todo o dia. Na Barra da Tijuca serão instalados 15 pontos de interrupção do trânsito, com reforços em pontos sensíveis, como edifícios públicos e zonas de aglomeração de público.

Para entender melhor as precauções tomadas para que a licitação do campo de Libra ocorra sem incidentes aos olhos do mundo, basta recordar os números imponentes que se mesclam na operação do pré-sal e com os negócios ao redor do petróleo brasileiro.

Como recordou o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, enquanto as empresas automobilísticas estrangeiras mobilizaram 51 bilhões de dólares no Brasil nos últimos 30 anos, calcula-se que o campo de Libra poderá mobilizar 181 bilhões de dólares nos próximos 30 anos, a maior parte proveniente dos sócios estrangeiros.

Por isto, um assessor da presidente Rousseff afirmou que “nunca houve algo parecido no Brasil nos últimos 30 anos”, referindo-se ao capital estrangeiro que o pré-sal vai trazer para o país. Esta é uma das respostas que o governo apresenta aos que se opõem à participação de consórcios estrangeiros na extração do óleo de Libra, e que o Brasil sozinho seria incapaz de fazer frente à operação.

Hoje, o Brasil seria incapaz de montar sozinho toda a estrutura necessária para extrair estes bilhões de barris de petróleo. Será preciso construir outros estaleiros e umas 12 plataformas novas. Além disso, será preciso encomendar 29 sondas de perfuração novas, pois o petróleo se encontra em águas profundas, a até 7 mil metros.

Calcula-se que entre 2013 e 2017 a Petrobras e seus sócios investirão uns 105 bilhões de dólares na exploração e produção do pré-sal. Só o projeto das 29 sondas novas vai levar à criação de 150 mil empregos diretos e indiretos.

No total, calcula-se que nos próximos 30 anos o conjunto dos investimentos representará para a economia brasileira a bagatela de 1,7 trilhão de dólares (3,7 trilhões de reais), quase o PIB de 2012. Neste período, calcula-se que o pré-sal pode vir a criar até 87 milhões de postos de trabalho.

Tradução de Cristina Cavalcanti

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